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The Nameless Blog

Já foi “Som das Letras” e um narcisista “Blogue da Paula”. Foi um prolongamento da eterna ínsula, tendo sido denominado como “Ilha Paula”. Hoje, é um blogue sem nome para que seja aquilo que sempre foi: um blogue sobre tudo e nada.

The Nameless Blog

Já foi “Som das Letras” e um narcisista “Blogue da Paula”. Foi um prolongamento da eterna ínsula, tendo sido denominado como “Ilha Paula”. Hoje, é um blogue sem nome para que seja aquilo que sempre foi: um blogue sobre tudo e nada.

Um ano de rotinas

És mãe. De um dia para outro passas de “pessoa totalmente independente e que pode fazer o que lhe der na real gana” a “pessoa que dedica todo o seu tempo para um ser minúsculo e indefeso que necessita de ti para sobreviver.”

Passas cinco meses em casa a cuidar do teu filho. Quando este período está a terminar, tentas fazer com que a rotina do teu bebé se mantenha, mas sem a tua presença constante. Escondeste quando chega a hora de dar o biberão pois sabes que, se estiveres presente, o teu bebé para chorar a pedir o teu colo e vai querer mama. Escondeste no teu quarto, enquanto o pai tenta dar o biberão. O teu bebé não te vê, mas chora na mesma. Tu, sozinha no quarto, choras também. Não queres regressar ao trabalho e deixar o teu bebé ao cuidado de terceiros, mesmo sabendo que, neste caso, o terceiro será o pai da criança.

 

Chega o dia de regressares ao trabalho. Nesta ausência de cinco meses são muitos os emails que tens na tua caixa de correio. Estás presente fisicamente, mas o teu espírito está em casa e estás constantemente a pensar como as coisas estão a correr por lá. Felizmente, tens redução de horário e trabalhas numa empresa que te permite fazer jornada completa e consegues sair às 15h30. Corres, literalmente, para casa. Morres de saudades daquele pequenino … Tu e as tuas mamas que estão quase a arrebentar de leite. Chegas a casa e não vês mais ninguém sem ser o teu filho. Ele reconhece-te e recebe-te com um sorriso enorme. Dás mama. Ele agradece e tu também.

 

Um mês depois de teres recomeçado a tua rotina profissional, está na hora do teu marido também regressar ao seu trabalho e, por conseguinte, começar a deixar o petiz no infantário.

Começam a fazer a adaptação de forma gradual. No primeiro dia fica até meio da manhã; no segundo já fica até ao almoço; no terceiro fica até depois da sesta; no quarto e no quinto dia já é possível ficar até ao final da tarde. É impressionante como eles se adaptam rapidamente e és tu que ficas pior do que estragada por ele, tão pequenino, já ter que sair de casa cedo para se meter numa sala de infantário durante todo o dia.

Continuas com redução de horário até ele completar um ano.

 

Chegou o dia que o teu bebé completa um ano de vida.

A partir deste momento, a tua redução de horário terminou. Vais voltar a chegar a casa tarde e a más horas. O teu filho vai ficar no infantário até tarde e a más horas. Quando o consegues ir buscar e entram em casa está quase na hora de ir dormir, mas antes tens de dar banho, dar o jantar, ver se consegues brincar um pouco com ele e só depois o vais deitar. Estamos nesta fase há 3 dias e estás deprimida porque não usufruis dele como deverias usufruir. Chegas a casa cansada e ele também. Ele está a evoluir dia após dia e tu andas a perder isto tudo.

Os primeiros minutos de 24 de Maio de 2016

Começaram a cesariana. Os meus olhos iam do relógio para a máquina que média a tensão. À cabeça tinha a anestesista que, com uma voz suave dizia que estava tudo a correr bem. Não me lembro de ouvir ninguém, com excepção da anestesista. Não sei se ouve aquela diálogo monocórdico entre médicos e enfermeiros. Estava com audição selectiva. A calma que tive ao caminhar pelo corredor estava a desaparecer. Estava ansiosa. Queria o meu menino nos meus braços. O tempo parou até ao segundo que o médico disse: " Parabéns, é mãe!" e de alguém dizer que era meia-noite e catorze.

 

O meu menino nasceu à meia-noite e catorze de 24 de Maio.

 

Não me lembro de ouvir o Francisco chorar. Segui-o com os olhos, enquanto o iam pesar, medir e limpar. 

 

Enquanto preparavam o menino, o médico continuava o seu trabalho. Comecei a ficar com suores frios e com a tensão a subir. A anestesista pedia para ter calma. Eu tentava pôr em prática os truques respiratórios que aprendi no curso de preparação para o parto. Acalmei-me. Trouxeram o Francisco até mim e, neste segundo, vi que realmente existe amor à primeira vista. Ele era o bebé mais lindo do mundo. Ele era o meu bebé. Eu era mãe. Eu tinha o meu bebé junto a mim. Deitaram-no sob o meu peito. "Mãe, apresento-lhe o seu filho." Sorri e dei -lhe as boas-vindas ao mundo com um carinhoso "Olá, Francisco!". Ele abriu os olhos ... enormes ... olhou profundamente para mim e apaixomo-nos. Aquele era o nosso momento. A sala, cheia, não interessava naquele momento. Éramos apenas nós os dois. 

 

Saímos da sala de operações. Ele coladinho a mim a mamar e eu com o olhar vidrado nele. Que lindo que era o meu menino. Não conseguia tirar os olhos dele.

 

Fomos para o recobro e, pouco depois, entrou o meu marido para conhecer o filho.

Amor. Amor. Amor.

Nunca senti tanto amor como naquela noite.

Agora éramos três. Éramos, finalmente, uma família.

 

 

 

A horas de um ano de Francisco

Para falar e recordar onascimento do Francisco, que comemora o seu primeiro aniversário amanhã, 24 de Maio, há necessidade de falar do dia anterior ao seu nascimento.

 

Faz hoje um ano que fui a mais uma consulta para ver se estava tudo bem com o bebé, mas, sobretudo, para marcar a cesariana, visto que o herdeiro teimava em não dar a volta e, tendo sido uma grávida com diabetes gestacionais, a minha obstetra nao queria deixar a gravidez chegar até às 40 semanas, para o bebé não engordar em demasia. A 23 de Maio, estava a 1 dia de completara 38 semanas de gravidez e lá fui para o hospital da zona (Beatriz Ângelo) para marcar a cesariana. 

 

Saímos com uma data - 31 de Maio - e seguimos com a nossa vidinha. Fomos almoçar e aproveitamos para comprar umas coisas que ainda faltavam para a mala que ia levar para a maternidade. Demos mais umas voltas, mas já andava muito cansada e voltamos para casa. 

 

Dormi uma sesta que me soube que nem ginjas; o marido fez o jantar; jantamos; o marido foi limpar a cozinha e eu fui fazer o meu desporto preferido: esticar-me no sofá.

 

Por volta das nove e meia da noite comecei a sentir -me estranha e com uma vontade urgente de ir à casa de banho para fazer xixi. Fui. Ao limpar-me, vi que o papel vinha com uma coloração estranha e achei que aquilo não poderia ser normal. Fora isso, estava na boa. Sem dores. Sem nada. Ainda fiquei uma meia hora em casa, mas depois disse que talvez fosse melhor ir ao hospital ... só para descarte de consciência e para ver se estava tudo bem com o nosso pequenino. Lá fomos. O hospital fica a 5 minutos de casa, se tanto. O marido foi estacionar o carro e eu dirigi -me às urgências. Estava o caos. A maquineta das senhas tinha avariado e aquilo estava quase o início da III Guerra Mundial.

 

Não sei se foi por causa de todo o zum-zum que se vivia à minha volta, mas comecei a ter umas dores estranhas, semelhantes às dores menstruais, logo suportáveis  ... bastava respirar fundo, chegar os olhos, mexer na barriga e conseguia abstrair-me. Fui atendida e, rapidamente, reencaminhada para o serviço de obstetrícia, já na companhia do meu marido. Lá, esperei mais um pouco, até me chamarem para fazer o ctg. Ligaram-me à maquineta. Ouvi o coração do meu menino. Tudo estava bem. Pouco depois, chega o enfermeiro e diz que já estava tudo pronto. Eu, muito preocupada, digo que estou com um corrimento estranho, ao que ele responde: "Está pronta desta sala, mas ainda falta ir a outra." Fui. Era a hora de fazer o toque. Assustei-me. Não estava preparada para aquilo e não sabia o que estava a acontecer. Até que a enfermeira disse ao médico: " Doutor, é para avisar que esta senhora está a entrar em trabalho de parto." A sério? É isto a coisa de entrar em trabalho de parto? E aquelas dores insuportáveis e tudo o que a gente vê nos filmes? Nicles!

 

"Está acompanhada?", perguntaram.

"Sim. Tenho o meu marido na sala de espera."

" Então, vá falar com ele e informar que está quase a ser pai. Ah! E traga a mala com as coisinhas do bebé."

 

Errrr ... pois ... A mala. A mala tinha ficado em casa. Pensávamos que íamos ao hospital ver se estava tudo Ok e voltávamos para casa e tínhamos deixado tudo em casa. A sorte é que estava tudo operacional ... Lembram -se das compras que fomos fazer neste dia depois de ter saído do hospital? Pois ...

 

Fui até à sala de espera. Expliquei o que se estava a passar. Ele entrou para a sala comigo, para que pudesse levar a minha roupa e os meus pertences. Ele foi a casa buscar a mala, ligando, no caminho, para os meus pais, que estavam nos Açores, bem como para os pais dele, que estavam relativamente próximos de nós, enquanto eu dirigia-me para a sala de cirurgia com toda a calma do mundo.

 

Estava calma. Muito calma. Nem parecia que daqui a alguns a alguns s minutos iria conhecer o meu filho e entraria no Clube das Mães. Eu estava a minutos de ser mãe.

Eu ...

Mãe  ...

 

Lembro-me de um corredor enorme. Eu com aquela bata típica de hospitais a andar pelo corredor fora, já com o soro a ir para a veia. Entrei na sala e toda a equipa já me esperava. Desejei boa noite a todos ... Simpatia em primeiro lugar, que estes gajos vão-me abrir a barriga e mexer nisto tudo que há aqui para dentro e vão ser eles que vão dar a conhecer o herdeiro.

Sentei -me na mesa de operações, administraram a epidural. Deitei-me e fiquei à espera que anestesia começasse a fazer efeito.

 

Já faltava pouco. O nosso bebé estava quase nos meus braços. 

 

Infelizmente, o Hospital Beatriz Ângelo ainda não estava, na altura, preparado para os pais assistirem às cesarianas. A lei que permite os pais estarem presentes tinha acabado de entrar em vigor e os hospitais tinham 3 meses (salvo erro) para se adaptarem e o Francisco nasceu neste período, logo o pai não teve a felicidade de estar presente, de o ver sair de mim, de estar a dar -me a mão e de ser o primeiro a segurar o filho nos braços.

 

Já faltava pouco e o dia 23 de Maio estava a minutos de terminar. 

 

O resto da história será contada amanhã, que é como quem diz daqui a uma hora, mais coisa, menos coisa.