Esta manhã, a caminho do escritório, a rádio estava sintonizada na M80. A música que saía das colunas era uma melodia que me acompanhou na entrada na adolescência – aquela idade do armário, que o nosso quarto é o nosso mundo e, sobretudo, um refúgio para os males daquela idade.
A voz era a de Klaus Meine, o vocalista da banda alemã Scorpions; a música era Holiday, a última faixa do lado B, do álbum Lovedrive, lançado a 15 de Janeiro de 1979 (foi só depois de fazer uma breve pesquisa para escrever este post que reparei a coincidência fantástica entre a data de lançamento e o dia que uma viagem me fez voar de volta para os finais dos anos oitenta) e, como escrevi no parênteses, viajei aos meus doze anos (que não é a mesma coisa dos doze anos de hoje) e vi-me deitada na minha cama, com a porta do quarto fechada, as paredes forradas com as caras das bandas do momento e que, ao longo do tempo, foram mudando consoante os gostos musicais que fui adquirindo, até ao momento que ter pósteres era coisa de miúdos. Escrevia no meu diário (azul que eu nunca fui muito de rosinha cor de menina), lamentava a minha curta vida e aquele rapaz que dizia gostar de mim, mas que, depois, não me ligava nenhuma. Traduzia as letras das canções porque sempre achei que percebia alguma coisa de inglês e lia aquela tradução para que as palavras fizessem ainda mais sentido na minha vida tão melodramática.
Esta manhã viajei no tempo. Fiz uma viagem de vinte e cinco anos (!!!!) atrás e gostei de ver aquela miúda deitada na cama, com os olhos ligeiramente molhados pelas lágrimas incompreendidas da adolescência. Tive vontade de dizer que tudo iria correr bem, apesar da montanha russa que será a vida dela até, pelo menos, os trinta e sete anos. Dizer-lhe para chorar porque chorar faz bem; dizer-lhe que faz bem em se apaixonar de forma tão intensiva pois esta intensidade fará com que ela tenha momentos memoráveis na sua vida; dizer-lhe para fazer tudo o que vai fazer durante a vida porque servirá para que ela cresça e aprenda. Queria dizer-lhe que, anos mais tarde, na fase final da sua vida académica, iria ter a oportunidade de ouvir a banda de ouvia naquele preciso momento, num local tão próximo de casa e que, na noite do concerto, acompanhada com o namorado da altura, viajou aos seus doze anos, como sempre viaja quando ouve as músicas que faziam tanto sentido naquele ano (e noutros).
Em bom rigor, essa não era a minha música preferida dos Scorpions ou, pelo menos, não era a que mais suspiros me tirava. A eleita era e sempre será esta, mas isso agora ficará para próximas núpcias que é como quem diz que ficará para os próximos posts que virão depois deste, já que uma música e uma viagem no tempo fez com que nascesse uma nova rubrica.