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The Nameless Blog

Já foi “Som das Letras” e um narcisista “Blogue da Paula”. Foi um prolongamento da eterna ínsula, tendo sido denominado como “Ilha Paula”. Hoje, é um blogue sem nome para que seja aquilo que sempre foi: um blogue sobre tudo e nada.

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Já foi “Som das Letras” e um narcisista “Blogue da Paula”. Foi um prolongamento da eterna ínsula, tendo sido denominado como “Ilha Paula”. Hoje, é um blogue sem nome para que seja aquilo que sempre foi: um blogue sobre tudo e nada.

Em jeito de despedida, a minha homenagem a José de Almeida

O ano lectivo de 1993/94 estava prestes a começar. Em casa, a mochila num canto do quarto, repousava aguardando pelo primeiro dia de aulas já preenchida com os cadernos e livros das disciplinas tão diferentes das estudadas nos últimos cinco anos. A ansiedade sentida nos dias anteriores ao início das aulas era, naquele verão, maior – estava a dias de entrar para a escola secundária; estava a dias de uma mudança radical de ambiente, de colegas e de professores; estava a dias de iniciar uma nova fase da minha vida de estudante numa escola nova.

 

O primeiro dia de aulas chegou e foi com um friozinho na barriga que entrei pela primeira vez na Escola Secundária das Laranjeiras. Tudo era estranhamente diferente: a escola, os alunos, os auxiliares e os professores. Ah! Os professores! Aqueles primeiros dias foram decisivos para delinear quem eram os fixes e quem eram os secantes; quais seriam os nossos preferidos e os outros. Neste campo, considero-me uma sortuda pelos professores que tive durante aqueles três anos anteriores à entrada na Universidade e ainda hoje recordo, se bem que esporadicamente, daqueles que mais me marcaram e que, podemos dizer, conseguiram chegar ao meu pódio. Sem que haja um primeiro, segundo ou terceiro lugar, os professores que fortaleceram a minha personalidade enquanto aluna foram a professora Paula Lima, o professor Tito Coelho e o professor José de Almeida. A professora Paula Lima acompanhou-me durante dois anos nas aulas de português e fez com que a minha paixão pela Literatura aumentasse ainda mais; o professor Tito Coelho, com a sua personalidade peculiar, ensinou-me a olhar para a Geografia como uma ciência superior e que, até então, não achava nada interessante; o professor José de Almeida … Ah! O professor José de Almeida … Aqui devo parar, respirar fundo e dizer que toda esta lengalenga foi para chegar até ele. É para ele que escrevo este post em jeito de homenagem póstuma ao homem, ao político e ao professor.

 

O professor José de Almeida era um caso único.

 

Ontem, li a notícia que tinha falecido e, apesar de já não falar com ele desde a minha saída da secundária, o meu coração ficou mais pequenino ao saber do seu desaparecimento.

 

O professor José de Almeida era um dos professores de História da escola. Das três turmas de Humanidades existentes nas Laranjeiras, a minha foi a sortuda que saiu na rifa deste senhor da História. As suas aulas eram únicas (como ele) e, se bem me lembro, nunca senti necessidade de me baldar àquela hora passada a ouvi-lo, já que a sua aula era de uma magnificência tal que era um desperdício não ir beber da sua sabedoria e ver com os nossos próprios olhos o entusiasmo com que ele falava daquilo que sabia. Estas aulas eram das poucas que me sentava nas primeiras carteiras da sala de aula – aquela fila injustamente conotada como pertença dos marrões da turma – para ver em primeiro plano aquela energia.

 

A meio do ano lectivo do 11.º ano falei com o professor e disse que, uma vez que não poderia ir para Comunicação Social como sempre quis (as razões desta impossibilidade não são importantes para o caso), pensava em seguir História, numa tentativa vã de querer seguir os seus passos e um dia ter uma mão cheia de alunos que pensariam em mim com saudade e orgulho de me terem tido como professora. Ele, no alto da sua sabedoria, disse para eu ter juízo e que a História não enchia barriga a ninguém e que seguisse Inglês já que era igualmente boa aluna nesta disciplina.

(Professor, informo que segui o seu conselho e que o Inglês já teve dias melhores. Se nos anos 90 ainda era possível pensar em seguir uma carreira nesta área, no início do século XXI a coisa ficou comparável à História e hoje estou numa área bastante diferente daquilo que ansiava na secundária e na universidade – o turismo – mas que me preenche dia após dia.)

Ele era assim. Um professor deveras preocupado com o futuro dos seus discentes, tão preocupado que, um dia, quando a minha média baixou 1 valor, ele me chamou no fim da aula para saber se estava tudo bem comigo e se as coisas estavam bem em casa. Ele era assim.

 

E os testes? Mais uma vez, o professor José de Almeida era diferente dos seus pares. Em vez de ter um enunciado previamente preparado, a pergunta (singular … nunca plural) era feita na altura com a primeira coisa que lhe vinha à cabeça e nós tínhamos uma hora para meter naquela folha de papel todo o conhecimento que nos tinha sido transmitido.

 

Se bem que o nome JOSÉ DE ALMEIDA era conhecido pela sua associação à política, devido ao seu papel fulcral como líder da Frente de Libertação dos Açores (FLA), falo dele apenas como o conheci verdadeiramente: como PROFESSOR e é como ALUNA que me despeço dele achando que os 79 anos que passou por este mundo foram mínimos para transmitir os seus valores.

 

Professor, sei que não sou a única que se sentiu mais pequenina com a sua partida!

Obrigada.