Os primeiros minutos de 24 de Maio de 2016
Começaram a cesariana. Os meus olhos iam do relógio para a máquina que média a tensão. À cabeça tinha a anestesista que, com uma voz suave dizia que estava tudo a correr bem. Não me lembro de ouvir ninguém, com excepção da anestesista. Não sei se ouve aquela diálogo monocórdico entre médicos e enfermeiros. Estava com audição selectiva. A calma que tive ao caminhar pelo corredor estava a desaparecer. Estava ansiosa. Queria o meu menino nos meus braços. O tempo parou até ao segundo que o médico disse: " Parabéns, é mãe!" e de alguém dizer que era meia-noite e catorze.
O meu menino nasceu à meia-noite e catorze de 24 de Maio.
Não me lembro de ouvir o Francisco chorar. Segui-o com os olhos, enquanto o iam pesar, medir e limpar.
Enquanto preparavam o menino, o médico continuava o seu trabalho. Comecei a ficar com suores frios e com a tensão a subir. A anestesista pedia para ter calma. Eu tentava pôr em prática os truques respiratórios que aprendi no curso de preparação para o parto. Acalmei-me. Trouxeram o Francisco até mim e, neste segundo, vi que realmente existe amor à primeira vista. Ele era o bebé mais lindo do mundo. Ele era o meu bebé. Eu era mãe. Eu tinha o meu bebé junto a mim. Deitaram-no sob o meu peito. "Mãe, apresento-lhe o seu filho." Sorri e dei -lhe as boas-vindas ao mundo com um carinhoso "Olá, Francisco!". Ele abriu os olhos ... enormes ... olhou profundamente para mim e apaixomo-nos. Aquele era o nosso momento. A sala, cheia, não interessava naquele momento. Éramos apenas nós os dois.
Saímos da sala de operações. Ele coladinho a mim a mamar e eu com o olhar vidrado nele. Que lindo que era o meu menino. Não conseguia tirar os olhos dele.
Fomos para o recobro e, pouco depois, entrou o meu marido para conhecer o filho.
Amor. Amor. Amor.
Nunca senti tanto amor como naquela noite.
Agora éramos três. Éramos, finalmente, uma família.