Mesmo passados quase nove anos da saída do ninho e de ter ganho as asas que me permitiram finalmente voar sozinha, o regresso a casa e ao quarto que um dia foi o meu porto de abrigo e o meu refúgio é fazer uma verdadeira viagem no tempo.
Hoje, o quarto já não é o meu quarto. Foi transformado numa divisão de reunião familiar. Porém, ainda é possível verificar que aquele foi o meu território: na porta lê-se que é o meu quarto, os primeiros livros da minha biblioteca pessoal ainda lá estão, os meus bonecos da infância continuam expostos, o placard onde colocáva as fotografias dos momentos mais marcantes do ano continua lá e, se vasculhar bem as gavetas e cantos, vou descobrir ainda muito mais daqueles vinte e oito anos vividos sob a asa protectora dos pais.
Sempre que faço essa viagem ao passado, tento trazer um pouco do meu berço para a minha actual casa. Ora trago fotografias, ora trago recortes de reportagens que, por algum motivo, me fizeram guardá-los, ora trago um livro ou outro. Desta vez, o objecto eleito para me acompanhar na última ponte aérea foi uma verdadeira Caixa de Pandora: uma caixa contruída nos tempos infantis da escola preparatória, com a sábia ajuda do professor de Trabalhos Manuais (nunca fui muito prendada neste tipo de actividades). Forrada com um papel aveludado de um azul profundo que sempre que acompanhou e que faz parte do meu ADN, nela guardei as cartas que recebi num tempo que não havia telemóveis, nem internet.
Nesta caixa estão as palavras de amigas de sempre e de pessoas que nunca conheci. E nesta caixa estiveram palavras de amores juvenis (ainda me culpo de a ter deixado à mercê das mãos maternas que um dia se lembrou de vandalizar essas últimas).
O objectivo de ter trazido esta caixa comigo foi apenas um: recuperar o contacto com os remetentes das cartas que se vê na imagem acima - os penfriends dos anos 90.