Para falar e recordar onascimento do Francisco, que comemora o seu primeiro aniversário amanhã, 24 de Maio, há necessidade de falar do dia anterior ao seu nascimento.
Faz hoje um ano que fui a mais uma consulta para ver se estava tudo bem com o bebé, mas, sobretudo, para marcar a cesariana, visto que o herdeiro teimava em não dar a volta e, tendo sido uma grávida com diabetes gestacionais, a minha obstetra nao queria deixar a gravidez chegar até às 40 semanas, para o bebé não engordar em demasia. A 23 de Maio, estava a 1 dia de completara 38 semanas de gravidez e lá fui para o hospital da zona (Beatriz Ângelo) para marcar a cesariana.
Saímos com uma data - 31 de Maio - e seguimos com a nossa vidinha. Fomos almoçar e aproveitamos para comprar umas coisas que ainda faltavam para a mala que ia levar para a maternidade. Demos mais umas voltas, mas já andava muito cansada e voltamos para casa.
Dormi uma sesta que me soube que nem ginjas; o marido fez o jantar; jantamos; o marido foi limpar a cozinha e eu fui fazer o meu desporto preferido: esticar-me no sofá.
Por volta das nove e meia da noite comecei a sentir -me estranha e com uma vontade urgente de ir à casa de banho para fazer xixi. Fui. Ao limpar-me, vi que o papel vinha com uma coloração estranha e achei que aquilo não poderia ser normal. Fora isso, estava na boa. Sem dores. Sem nada. Ainda fiquei uma meia hora em casa, mas depois disse que talvez fosse melhor ir ao hospital ... só para descarte de consciência e para ver se estava tudo bem com o nosso pequenino. Lá fomos. O hospital fica a 5 minutos de casa, se tanto. O marido foi estacionar o carro e eu dirigi -me às urgências. Estava o caos. A maquineta das senhas tinha avariado e aquilo estava quase o início da III Guerra Mundial.
Não sei se foi por causa de todo o zum-zum que se vivia à minha volta, mas comecei a ter umas dores estranhas, semelhantes às dores menstruais, logo suportáveis ... bastava respirar fundo, chegar os olhos, mexer na barriga e conseguia abstrair-me. Fui atendida e, rapidamente, reencaminhada para o serviço de obstetrícia, já na companhia do meu marido. Lá, esperei mais um pouco, até me chamarem para fazer o ctg. Ligaram-me à maquineta. Ouvi o coração do meu menino. Tudo estava bem. Pouco depois, chega o enfermeiro e diz que já estava tudo pronto. Eu, muito preocupada, digo que estou com um corrimento estranho, ao que ele responde: "Está pronta desta sala, mas ainda falta ir a outra." Fui. Era a hora de fazer o toque. Assustei-me. Não estava preparada para aquilo e não sabia o que estava a acontecer. Até que a enfermeira disse ao médico: " Doutor, é para avisar que esta senhora está a entrar em trabalho de parto." A sério? É isto a coisa de entrar em trabalho de parto? E aquelas dores insuportáveis e tudo o que a gente vê nos filmes? Nicles!
"Está acompanhada?", perguntaram.
"Sim. Tenho o meu marido na sala de espera."
" Então, vá falar com ele e informar que está quase a ser pai. Ah! E traga a mala com as coisinhas do bebé."
Errrr ... pois ... A mala. A mala tinha ficado em casa. Pensávamos que íamos ao hospital ver se estava tudo Ok e voltávamos para casa e tínhamos deixado tudo em casa. A sorte é que estava tudo operacional ... Lembram -se das compras que fomos fazer neste dia depois de ter saído do hospital? Pois ...
Fui até à sala de espera. Expliquei o que se estava a passar. Ele entrou para a sala comigo, para que pudesse levar a minha roupa e os meus pertences. Ele foi a casa buscar a mala, ligando, no caminho, para os meus pais, que estavam nos Açores, bem como para os pais dele, que estavam relativamente próximos de nós, enquanto eu dirigia-me para a sala de cirurgia com toda a calma do mundo.
Estava calma. Muito calma. Nem parecia que daqui a alguns a alguns s minutos iria conhecer o meu filho e entraria no Clube das Mães. Eu estava a minutos de ser mãe.
Eu ...
Mãe ...
Lembro-me de um corredor enorme. Eu com aquela bata típica de hospitais a andar pelo corredor fora, já com o soro a ir para a veia. Entrei na sala e toda a equipa já me esperava. Desejei boa noite a todos ... Simpatia em primeiro lugar, que estes gajos vão-me abrir a barriga e mexer nisto tudo que há aqui para dentro e vão ser eles que vão dar a conhecer o herdeiro.
Sentei -me na mesa de operações, administraram a epidural. Deitei-me e fiquei à espera que anestesia começasse a fazer efeito.
Já faltava pouco. O nosso bebé estava quase nos meus braços.
Infelizmente, o Hospital Beatriz Ângelo ainda não estava, na altura, preparado para os pais assistirem às cesarianas. A lei que permite os pais estarem presentes tinha acabado de entrar em vigor e os hospitais tinham 3 meses (salvo erro) para se adaptarem e o Francisco nasceu neste período, logo o pai não teve a felicidade de estar presente, de o ver sair de mim, de estar a dar -me a mão e de ser o primeiro a segurar o filho nos braços.
Já faltava pouco e o dia 23 de Maio estava a minutos de terminar.
O resto da história será contada amanhã, que é como quem diz daqui a uma hora, mais coisa, menos coisa.